domingo, 27 de abril de 2008

Aparteid Disfarçado


apartheid disfarçado todo dia
quando me olho não me vejo na tv
quando me vejo estou sempre na cozinha
na favela submissa ao poder
já fui mucama mas agora sou neguinha
minha pretinha nós gostamos de você
levanta saia, saia correndo para o quarto
na madrugada patrãozinho quer te ver
oioi...
(...)
Será que um dia eu serei a patroa

sonho que um dia isso possa acontecer
ficar na sala não ir mais para a cozinha
agora digo o que vejo na tv
um som negro
um deus negro
um adão negro
um negro no poder

um som negro

um deus negro
um adão negro
um índio no poder

Na música Adão Negro de Adão Negro, percebe-se visivelmente a crítica à submissão contínua dos negros aos “senhorzinhos” presentes nesse mundo “socioteórico” de qual fazemos parte sem nem termos sido consultados, ou melhor, sem nem termos tido a oportunidade de participar dos “clubinhos de maria vai com as outras” do qual o mundo acabou por dominar-se — felizmente ñ totalmente.
Liberdade... se diz, todos os dias, que foi dada pela “mocinha do bang-bang”( princesa Isabel) aos afro-descendentes que tanto desejavam-na. Mas que liberdade é essa que, como um disfarce, é coberta pelos panos negros da hipócrita ideologia de sermos “modelinhos de etiquetas de caderno”? Dizer que algo tão negativamente poderoso como o racismo acabou, é inadmissível, pois a todo momento temos claras evidências de que há pessoas que contribuem para sua existência. Alguns com seus pensamentos, ainda que tímidos e introspectos, “endemoniados”. Outros, com suas “singelas” atitudes que almejam omitir a existência da etinicidade de um povo tão “à parte”.
Na música também é retratada uma realidade visível, que é o sonho da existência—não tão distante—de um mundo negro que derrubaria paradigmas e com eles os conceitos arcaicos usados pela sociedade para excluir os negros e criar uma apologia a idéia de que negros são “extraterrestres”, e também o desejo de ascensão do negro no poder, ou seja a valorização da sua capacidade, independentemente da cor em questão, o que lamentavelmente pouco é feito, afinal, vivemos em um mundo além de narcisista, esteticista e estereotipada.
Verdadeiramente, a transformação ocorrida com uma certa dificuldade de continuidade incomoda àqueles que pretendem não contribuir, pois eles se auto-realizam quando põem em prática a idéia de que essa etnia ocupe lugares que durante tantos anos foram das ditas “puras”. O que as pessoas demoraram a perceber é que essa “qualidade” é exclusiva dos diversificadamente pobres. . Também é perceptível a forma com que a sociedade consegue impor sorrateiramente a idéia de que “preto é pobre e pobre é ladrão”, se tornando assim um ciclo de conclusões pré-conceituosas que resultam sempre na mesma coisa: no crescimento dos problemas sociais.
Mesmo inconscientemente, até mesmo as escolas influenciam o racismo, pois no Ensino Fundamental aprendemos que as cores preto e branco, além de opostas são, ambas, neutras. Mas ao recordarmos a nossa época de inocência do maternal, lembramos que ensinaram-nos que branco é a cor que simboliza a paz e preto, o seu oposto, sendo sempre relacionado à coisas negativas. Alguns até mesmo dizem que chamar alguém de preto, mesmo que sem nenhuma intenção ofensiva, é atitude racista, mas então, por que chamar alguém de branco, caracterizá-lo e registrá-lo civilmente dessa forma também não é considerado crime?
Pois é, entender o que o ser humano pretende é constantemente complexo. Um ser dotado de grandes virtudes, como a mais poderosa: o PENSAR. E capaz de tantas atrocidades unânimes que o tornam inimigo de si mesmo, pois ele destrói a si mesmo sem se dar conta, já que, somos todos imagem e semelhança, portanto, o próximo é o nosso reflexo e ao ao deixarmos de aceitar o que ele é, acabamos por deixar de aceitar-nos, afinal, somos uma mesma raça.





“Sou preto, negro como a noite, sem estrelas. Sou negro, mas a brancura do meu ser se encontra na simplicidade do olhar”.

(O mal contamina—Fantasmão )




Elane Romulo

2 comentários:

καℓιиє мαсєdσ disse...

Porra!!!
Quem diria..!
temos uma poetar na turma...
é isso aí
Naninha Poca..!

Bjim Bjim

Evaldo MoraeS disse...

[b] Poeta é pouco!!!
Uma grande artista está escondina em um pequeno lugar...
Ela precisa de espaço pra publicar suas idéias..

Beijos Elane...